Conselheiro Xavier Neto
Ele sempre viveu no limite, era seu estilo, não conhecia o significado da palavra medo, não media o tamanho do perigo, a dimensão do desafeto ou a condição social do amigo, não tinha metade, nem meia verdade, não tinha meio termo, o termo tinha que ser o todo, tudo nele transparecia intensidade: era intenso no embate, no combate, no gostar, no desgostar, no amor, na ira, na lida política, nas amizades, nas inimizades, nas atividades.
Era operoso, criativo, dinâmico, irrequieto, gostava de pescar, da vida do campo, de plantar de criar de empreender. Era um paizão ao redor do qual, todos gravitavam, parecia turrão, mas por trás de tudo isto trazia no bornal do coração porções consideráveis de perdão, complacência, afeição, compreensão e doçura.
Os seus desafetos eram circunstanciais e nunca definitivos, pois quando formava um juízo de valores podia mudar da crueza do combate à reconciliação genuína, nunca fechando a porta para um inimigo. Servir era sua missão.
Nossos laços de amizade eram antigos principalmente por parte da família da minha esposa, porém só nos aproximamos na década de sessenta quando dividíamos uma mureta ao lado do Norton Hotel de Fortaleza onde à época moravam nossas namoradas e aquele espaço era o que nos franqueavam para encontrá-las. Naquele tempo o namoro ainda era a moda antiga.
Depois nos reencontramos na Assembléia onde convivemos durante doze anos e vivenciamos as mais inusitadas situações onde ele alternava seus rompantes com gestos magnânimos ou de extrema doçura. Era um eterno solidário com os humildes e sempre tinha um leriado carinhoso para cada amigo que encontrava.
O nosso último reencontro aconteceu no Tribunal de Contas onde ele chegou depois de um tumultuado processo de escolha, e já na sessão de posse, verdadeiro e franco como sempre, foi logo avisando que estava ali para somar, mais que não fugiria do combate caso fosse afrontado. Dito e feito.
Conviveu naquela casa por quase dois anos onde sem fugir das suas arraigadas convicções, se fez respeitar, pavimentou a estrada da concórdia, cultivou novas amizades, se fez querido e estimado e partiu de repente quando voava em busca de um juízo de valores para poder exercer a plenitude o seu papel de juiz e valorizar sobremaneira o papel daquela instituição. Foi apunhalado por uma de suas grandes paixões e velho companheiro de aventuras: um avião.
Que o grande guerreiro, meu amigo, companheiro e Conselheiro Xavier Neto descanse em paz.
11.03.2012
Luciano Nunes