Não se nasce mulher, torna-se (Simone de Beauvoir). É isso, apesar da diferenciação biológica, ser mulher é muito mais uma construção social. À medida que as relações de gênero pautam a nossa sociedade, se elas estiverem permeadas de preconceitos, corpos e mentes dos dois sexos terão a obrigação de quebrar esse círculo vicioso.
De repente chega 08 de março, o dia internacional da mulher, e elas estão sempre por toda a parte. Explode sucesso, profissionalismo, beleza, talento, responsabilidade, calmaria, mas também se desnuda o lado da submissão, da passividade, da dependência financeira, da manipulação,etc. A faceta mais cruel disso talvez ainda seja a da violência doméstica e familiar – que se mostra hoje como sendo um grande problema de saúde pública – assim como o não reconhecimento da mulher.
Mesmo com limitações, a História reserva (e esconde) exemplos brilhantes, de mulheres que não esperaram o tempo passar e arregaçaram as mangas, interferindo nas circunstâncias e no destino. Mulheres sempre adiante das horas, como se o relógio do tempo que as embalasse permitisse que elas enxergassem o agora o que outros só perceberiam mais tarde. Elas desafiaram padrões e precipitaram os acontecimentos.
O empoderamento do sexo feminino se torna cada vez mais real, pelo despertar da consciência, melhorando a autopecepção que têm sobre si mesma. Elas têm coragem, autoestima, voz para expressar ideias que vão além do espaço privado. Lutam por direitos, constroem alianças no campo pessoal, sociopolítico, econômico, cultural, acadêmico. O certo é que hoje, embora timidamente, vive-se um momento de nova iluminação, onde as mulheres estimulam a se pensar o humano, primeiro como pessoas, depois como homens e mulheres.
O cenário da sub-representação feminina nos três poderes como acontece em geral no nosso país, não tem assento, para nossa alegria, no Tribunal de Contas do Estado do Piaui. Embora essa realidade seja lugar comum no público e no privado no estado, do total de 538 funcionários efetivos e comissionados do tribunal, quase 49,00% são de mulheres, ou seja, uma diferença pequena quando se fala de uma população do sexo feminino de aproximadamente 52,00%, mas pode melhorar. Fatores diversos contribuem para que haja um crescimento na participação das mulheres em todos os contextos. Procura-se trabalhar principalmente com a ruptura de elementos da cultura patriarcal, responsável principal pela desigualdade ainda existente.
Existem homens e mulheres que brilham os olhos diante de um projeto coletivo, altruísta, fundado no desejo de mudança de país marcado pela concentração de renda e de poderes. As mulheres, entretanto, não se encontram ainda em uma das faces do tabuleiro de xadrez, como protagonistas. O mercado e os grandes projetos andam perdendo sua determinação, seu olhar, e sua capacidade de alterar realidades. Não ter mulher na gestão e no comando que represente a visão de quem toma a decisão, influencia ou controla, é um equívoco enorme com repercussão grave, cara, ineficiente e ineficaz em todos os sentidos.
Na realidade, não se vislumbra diferenças significativas entre a capacidade gerencial do homem e da mulher. É fato inclusive que o sucesso de uma gestão está mais intimamente ligado ao compromisso, ao conhecimento e à vontade de fazer o melhor. O aprendizado não pode ser confundido com adaptação pura e simples e constata-se que o caminho da preparação pessoal e profissional, o afetivo, o conhecimento e a sabedoria, acumulado ao longo do tempo e do caminho que as mulheres vem percorrendo, a remetem a uma postura de quem está realmente participando do jogo de xadrez.
O mês de março é de homenagens e de conscientização da importância da mulher em todos os contextos da vida, na economia, no trabalho, representação política, educação, na sociedade, enfim e principalmente, na família. Aqui fica uma provocação: que as histórias das grandes mulheres nas diferentes áreas, possam ser revisitadas e evidenciadas como exemplo para que cada vez mais se possa, à luz delas, nos mover como faróis na nobre missão do Controle Externo.
É delicioso ver mulheres desta Corte abrindo caminhos e mostrando que com elas a realidade pode ser mais fácil. Aliás, mulher não é difícil, na sua saga, ela é sempre uma força que tenta escolher o que quer ser. Abraços especiais às mulheres do nosso TCE!
Lilian Martins
Conselheira Corregedora do TCE/ PI